quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Pensamentos de um maratonista

Em que é que se pensa durante os 42km de uma maratona?

Na realidade, não existe "uma" maratona. A maratona é uma sequência de várias corridas, cada qual com as suas características próprias.

A partida é um momento de excitação e de alegria. Geralmente, milhares de pessoas assistem, a animação é muita e o prazer de estar presente é o sentimento dominante, juntamente com alguma apreensão pelo que vem a seguir. Conversar com outros participantes poderia ajudar a eliminar o stress, mas geralmente cada qual está concentrado na sua corrida, não é a melhor altura para confraternizações.

Vêm depois os primeiros quilómetros, em que o principal desafio é não ser atropelado nem atropelar. Nas grandes maratonas, o risco não é inexistente... Não há tempo para grandes pensamentos...

Quando as águas assentam e até mais ou menos os 20km, a euforia é o sentimento dominante. Nessa altura, parece que tudo é possível. E o desafio é resistir à tentação de acelerar mais do que o razoável. É a melhor fase da corrida, aquela em que mais se desfruta da presença ali naquele momento e que justifica os sacrifícios de meses de treinos. O público, as belas formas da atleta que vai à frente, a banda de música rock, de tudo se desfruta!

Entre os 20km e os 30 e tais km, as dificuldades começam. O tempo começa a parecer longo, a passada deixa de ser tão fácil. A mente está concentrada num único objectivo: aguentar o ritmo. Nesta fase, o público, a animação ou a paisagem já pouco impacto têm.

A verdadeira corrida começa a partir dos 35km. É aí que se perdem muitos minutos quando se quis irreflectidamente ganhar alguns segundos na primeira parte. É também aí que muitas vezes se sente a famosa quebra, o muro intransponível, em que as pernas pura e simplesmente recusam continuar a avançar. Uma só ideia na mente: não desistir, não desistir, não desistir...

Pouco a pouco, algumas forças regressam e a meta aproxima-se. Mas os últimos quilómetros são infindáveis.

E depois é o cortar da meta, a felicidade do objectivo alcançado. Qualquer que seja o tempo, chegar é sempre uma vitória. E começa-se a pensar na próxima, em que vamos finalmente atingir a tal marca das 3 horas....

2 comentários:

  1. Amigo Fernando
    Obrigado por subscrever o "cidadão de corrida" e por me ter dado a oportunidade de conhecer o seu blogue.
    Este post do Pensamento do Maratonista reflecte bem o que nos vai na alma e no corpo, durante aquela saga em que nos metemos. O misto de sofrimento e de prazer, de ousadia e contenção, de força física e psicológica com que temos de encarar as diferentes fases da corrida, preenche-nos completamente. Só quem já correu uma maratona conseguirá entender essas sensações e o meu amigo fê-lo de forma sublime. Do que disse, só não subscrevo o objectivo das 3h! Estive lá perto, na minha 1ª experiência (3,03), mas isso foi em 1987 !
    Mas a Maratona, independentemente do tempo que consiga fazer, é a corrida que maior satisfação me deixa e que eu, se pudesse, correria o mundo para conhecer pelo menos as principais.
    Grande abraço .
    FA

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  2. Caro Fernando
    gostei imenso do seu blogue. muito real a descrição dos sentimentos numa maratona. como o Fernando Andrade, apenas tenho uma opinião divergente na questão das 3h. é mais ... fazer a próxima e chegar ao final, para ter o mesmo prazer em repetir.
    abraço
    ab

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