segunda-feira, 11 de maio de 2009

Mais uma

Quando se é português e se vive em Bruxelas, há uma pergunta recorrente: "não lhe faz falta o sol?". A essa pergunta respondo habitualmente que a água me faz mais falta. Do mar, de preferência, mas pelo menos de um rio que rasgue a cidade e limpe as vistas.

Foi por isso um prazer correr a Maasmarathon, quase sempre à beira do rio "Meuse" (alguém sabe como é que se diz em português?).

Ainda por cima, um dia fantástico, de céu azul e tempretauras ideais para apanhar sol à beira-rio, mas que se adivinhavam demasiado quentes para correr uma maratona: estavam 16° à hora da partida, 25° à chegada. À sombra claro...

Como já tinha dado conta por aqui, a preparação para esta maratona não foi nada especial, dado que calhava muito próxima da anterior (Roma, em 22 de Março) e que foi perturbada por dores nos tendões de Aquiles e falta de motivação. Os 3kg a mais do que o meu peso ideal também não ajudaram.

Resolvi pois partir numa passada que me parecia cautelosa, assente no controlo da freqência cardíaca e sem me preocupar com a velocidade. Na prática, isso significou uma velocidade de 13km/h, que mantive até ao km 33.

Devo referir que o número de atletas era reduzido (menos de mil, certamente) o que fez com que, não indo integrado em nenhum grupo "com balão", tivesse de correr muitos quilómetros completamente sozinho.

Mesmo assim, a passada era manifestamente demasiado puxada para o meu estado de forma actual e a partir do km 33, o ritmo desacelerou constantemente. Também porque estava sempre presente a sensação desagradável nos tendões. Não era propriamente uma dor insuportável, mas um mal-estar constante. Às tantas, as articulções das ancas também acordaram, certamente desagradadas com o piso extremamente duro (muito cimento, alguns km de paralelipípedos). O monitor de frequência cardíaca indicava-me um valor equivalente (ou mesmo superior) ao dos primeiros km, mas a velocidade já não era a mesma. Manifestamente, estava a desperdiçar muito mais energia para uma passada cada vez mais lenta.

Mentalmente, aguentei-me. Há sempre uma altura em que nos perguntamos "mas que diabo estão eu aqui a fazer? Quem ma manda a mim pagar para vir para aqui sofrer?".

Mas a quebra física nunca foi total. Apenas a incapacidade de manter a mesma passada, pelo menos sem fazer explodir a frequência cardíaca. Mas como já só faltavam 9km, o moral manteve-se.

Tanto mais que não tinha grandes ambições cronométricas para esta maratona e que, embora em dificuldades, ia ultrapassando mais atletas do que os que me passavam a mim. Ou seja, muita gente arrancou demasiado depressa (o piso é bastante plano) e estava a pagar mais caro do que eu.

A chegada era numa descida e lá ganhei balanço para um último esforço na chegada, tendo cruzado a meta a grande velocidade (16km segundo o meu Garmin) num despique com um atleta que me tentou ultrapassar. E que consguiu nos últimos metros. Grrrr....

Os resultados ainda não estão no site, mas segundo o meu reloógio, fiz 3h20m, tanto como em Roma.

Algumas notas sobre a prova.

Em primeiro lugar, é muito bom correr numa pequena prova pequena como esta. Fazer o aquecimento até 5 minutos antes da partida, estacionar o carro a 300 metros da chegada, é um luxo nos dias que correm.

Adorei a paisagem. Não me cansei de admirar o rio Meuse, embora esteja totalmente "domesticado" (barragens, comportas, margens artificiais). E que vida à beira e no rio, especialmente na parte holandesa (kayak, pesca, barcos à vela, transporte de mercadorias...).

Ainda o meu apreço pela qualidade e quantidade dos abastecimentos e pela simpatia do pessoal.

Duas notas negativas.

Em primeiro lugar, inaceitável que o percurso não estivesse completamente fechado ao trânsito. Alguns moradores pegavam nos carros e faziam parte do perurso até poderem sair por ruas laterias. Para além de perigoso, extremamente desagradável e stressante.

Em segundo lugar, a falta de público, essencialmente na parte holandesa do percurso. Manifestamente, a organização tinha feito o necessário em termos de segurança, mas não em termos de divulgação do evento.

Em resumo, mais uma medalha para a minha colecção e uma prova que recordarei com prazer, pelo menos quando desaparecerem as dores musculares do dia seguinte...

3 comentários:

  1. Fantástico, Amigo Fernando!
    Quando diz que a Prova tinha poucos (que não devia chegar aos mil) por cá, uma maratona com mil é de se deitar foguetes de contentamento.
    O seu relato é de fazer crescer água na boca, pelo cenário que descreve.
    E olhe que 3,20, para quem fez a prova na "descontra" é um tempo sensacional. Parabéns.
    Ontem, a Maratona Carlos Lopes, lá se fez, mas é de uma pobreza franciscana, nada compatível com a grandeza do nosso campeão. Não quis ser muito violento no meu apontamento, mas há coisas inconcebíveis (a falta de km marcados é gravíssima), mas em termos de paisagem estava bastante bem. Não tenho dúvidas que foi o melhor desta maratona, que, em termos de organização é a mais fraquita das 3 que por cá temos.
    Próxima aposta : Raide Melides-Tróia!
    Grande abraço.
    FA

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  2. Efectivamente, a falta de marcação não tem qualquer desculpa. O Carlos Lopes não devia deixar utilizar a sua imagem para provas que não estão manifestamente à altura dele. Por cá nada disso, a organização era irrepreensível (apenas os carros que de vez em quando teimavam em utilizar a estrada que deveria ser exclusivamente para os atletas).
    F

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  3. Excelente relato, quase nos sentimos lá.

    Parabéns pela prova, e agora, desejo-lhe uma boa recuperação

    Ana Pereira

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